Educadores, será que estamos desenvolvendo a arte do pensamento crítico em nossos alunos? Continue a leitura e confira!
Harvey Siegel diz que desenvolver o pensamento crítico nos estudantes é um meio essencial para tratá-los como pessoas, ou seja, sujeitos autônomos capazes de pensar independente e reflexivamente.
Ensinamos muitas habilidades e competências às nossas crianças nas instituições escolares, não é verdade? Ensinamos, também, noções de ética, moral etc. Mas, você já se perguntou se as estamos ensinando a pensar de forma crítica?
O Pensamento Crítico é apresentado na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) como uma competência a ser desenvolvida em nossas instituições escolares (Pensamento científico, crítico e criativo), portanto, ele é um objetivo educacional.
Valdemir e Guilherme Guzzo dizem que:
[…] é necessário que as escolas e universidades se preocupem com determinados aspectos da formação intelectual de seus alunos, especialmente aqueles que se relacionam ao desenvolvimento e fortalecimento do pensamento crítico.
E, se acreditamos estar favorecendo o pensamento crítico deles, como o fazemos? Que estratégias utilizamos em sala de aula para promover e estimular esse pensamento em nossas crianças e adolescentes?
Historicamente, educar crianças para “ler as palavras” têm sido objetivo primordial de muitas das nossas escolas. Precisamos destacar que esse foco merece ser valorizado em um país que continua com altos índices de analfabetismo funcional, entretanto, precisamos ter o cuidado de perceber se esses leitores das palavras estão sendo educados também para “lerem o mundo”.
Estamos formando seres humanos conscientes das realidades que os cercam e com consciência social? Estamos formando homens e mulheres protagonistas da própria história, não passivos, mas, sim, agentes de transformação? Educamos crianças e adultos capazes de não só absorverem os conhecimentos e a ciência, mas de reinventá-los por meio da dúvida e da crítica?
Até hoje o aluno tem permanecido nos ombros do professor. Tem visto tudo com os olhos dele e julgado tudo com a mente dele. Já é hora de colocar o aluno sobre as suas próprias pernas, de fazê-lo andar e cair, sofrer dor e contusões e escolher a direção. E o que é verdadeiro para a marcha – que só se pode aprendê-la com as próprias pernas e com as próprias quedas – se aplica igualmente a todos os aspectos da educação (Vygotsky).
Embora nos esforcemos em impulsionar a marcha de nossos alunos, percebo que estamos falhando, e muito, em relação a essa educação emancipadora, libertária e ativa. Por isso, proponho três ações aos educadores:
- Reconhecer o pensamento crítico como uma ferramenta de defesa intelectual.
- Fomentar a construção de um repertório cultural vasto.
- Promover a cultura do pensamento em seus estudantes.
Para ajudá-los nesse processo, elenquei essas três dicas – com suas devidas aplicações na prática, aqui abaixo:
Promover uma cultura do pensamento
O ambiente escolar precisa ser, por excelência, o lugar do questionamento, da investigação e da discussão de ideias. Os educadores precisam desenvolver em seus alunos a cultura do pensamento, ou seja, fazer com que eles sejam responsáveis pelas suas ações e devidas consequências, que constituam uma autonomia que os possibilite fazer boas escolhas e tomar decisões saudáveis.
A escola deve, portanto, formar sujeitos capazes de elaborar argumentos e explicitar razões que sustentem as suas ideias de forma clara e objetiva. Para tal, vale ensinar de forma explicita estratégias de pensamento:
Na prática:
- Proporcione experiências de debate em sala de aula.
- Ao invés de dar boas respostas, faça boas perguntas aos alunos.
- Estabeleça relações de diálogo autêntico e horizontal nas aulas.
- Fomente a curiosidade deles.
- Estimule-os a ocupar o lugar de pesquisador.
- Incentive-os a raciocinar colaborativamente, com lógica, no sentido de promover a construção conjunta de significados.
- Promova a autocritica, incentive-os a analisarem o seu próprio discurso nas suas argumentações, orientando-os quando houver equívocos conceituais ou justificativas equivocadas nas suas falas.
Estimular o pensamento crítico como uma ferramenta de defesa intelectual
Grande parte das decisões que tomamos no dia a dia é realizada de forma irracional, não reflexiva. Frequentemente, temos grande dificuldade em utilizar a habilidade de pensar antes de agir e reagir.
O pensamento crítico é uma ferramenta de defesa intelectual, um escudo, ele nos protege de sermos coagidos e nos dá a oportunidade de fazer nossos próprios questionamentos, nossas próprias escolhas conscientes.
Na prática:
- Fomente nos alunos a arte da dúvida, da crítica e da determinação (D.C.D).
- Incentive os estudantes a analisarem suas referências e fontes.
- Promova a empatia como uma competência necessária à tomada de decisão.
Fomente a construção de um repertório cultural vasto
Ao longo do nosso desenvolvimento, precisamos conhecer os locais nos quais não vivemos, escutar os sons e as músicas que não nos são familiares, conhecer as formas de arte e expressão que nossa comunidade não produz. Precisamos, portanto, construir uma ampla bagagem de vivências e experiências que se constituirão em repertório cultural e nos ajudarão a pensar criticamente nossa realidade, os discursos e as posturas daqueles que se relacionam conosco.
Na prática:
- Incentive a leitura
- Promova espaços de discussão e construção do pensamento filosófico na escola
- Incentive o cinema e o teatro no ambiente escolar – seguidos de bate-papo
- Impulsione grupos de estudo na escola
- Valorize intercâmbios culturais
Por fim, educadores, é preciso dizer que: se queremos de fato mudar nossa realidade e fazer do nosso mundo um lugar melhor, mais justo e, principalmente, democrático, com certeza estimular o pensamento crítico é o primeiro alicerce a ser fortalecido em nossas escolas.
E aí, gostou do artigo? Esperamos que ele possa lhe ajudar a trabalhar o pensamento crítico de seus alunos. Confira também este outro blog post que separamos para você: A importância da consciência crítica nos nossos relacionamentos.
Leonardo Ferreira Andrade
Formado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Mestrando em Políticas Educacionais pela mesma instituição. Trabalha como Consultor Educacional pela Escola da inteligência.