Entenda como a comunidade escolar pode se preparar de maneira emocionalmente saudável para a volta às aulas pós-pandemia. Confira a seguir!
O preparo emocional é tão importante quanto os protocolos sanitários na retomada às aulas pós-pandemia, afinal, esse período singular que vivenciamos de isolamento social fez com que mudássemos nossas vidas: rotina e espaço de trabalho, atendimento aos alunos e familiares, orientações aos educadores para as aulas remotas e muito mais!
Toda mudança, normalmente, gera desconforto e insegurança e a comunidade escolar foi uma das mais atingidas no seu dia a dia: gestores, educadores, alunos e familiares sentiram-se perdidos. Não ir mais à escola causou grande instabilidade e mudança de rotina. Mas, pouco a pouco, fomos nos adaptando ao mundo digital:
- A sala de aula foi deslocada para as nossas casas e mediada pelo computador.
- Foi necessário nos adaptarmos à comunicação digital: escrever e responder e-mails / mensagens e conhecer novas ferramentas para gravação / edição de vídeos;
- Planejamos aulas e participamos de reuniões pedagógicas on-line;
- Fizemos cursos a distância para nos aprimorarmos ainda mais;
- Demos apoio emocional aos alunos e suas famílias.
As famílias também tiveram que se adaptar e fazer acontecer o ensino a distância: ajudar os filhos a compreenderem a necessidade de continuarem com os estudos, com as matérias e intensificar as lições a cada dia.
Os estudantes sentiram falta da interação com os colegas e precisaram aprender a se organizar para fazer caber em sua nova rotina o estudo de todas as disciplinas.
Tais mudanças vieram carregadas de um aumento nos níveis de ansiedade, medo, incerteza, insegurança e, em alguns casos, até depressão e síndrome do pânico.
Uma pesquisa realizada em maio de 2020 pelo Instituto Península identificou que a maior parte dos professores estão se sentindo ansiosos, sobrecarregados, cansados, frustrados e quase 50% dos entrevistados relataram diminuição da aprendizagem dos alunos como efeito da suspensão das aulas presenciais.
Sendo assim, queremos ressaltar o quanto a educação socioemocional é de extrema importância neste período para que a volta às aulas seja o mais saudável possível e, com isso, trazer um olhar de ressignificação.
Ressignificando a volta às aulas
Ressignificar é atribuir um novo sentido a acontecimentos por meio da mudança da nossa visão de mundo; e, se o mundo inteiro mudou diante deste cenário inédito que é pandemia, ressignificar a escola e a volta às aulas envolve entrelaçar também os espaços da família.
A família, a escola e os alunos lutaram, disponibilizaram-se, reinventaram-se e deram conta de fazer acontecer o ensino a distância! Todos merecemos as maiores honrarias e reconhecimentos diante de tamanha reinvenção e em tão pouco tempo!
Essa reinvenção só foi possível diante do olhar esperançoso que cada pessoa envolvida com a educação possibilitou. Entretanto, é sabido que estamos exaustos de vivenciar tantas incertezas e não saber quando o cenário irá se firmar, mas sabemos da extrema importância de trazer esse novo olhar.
Se quiser saber como estimular ainda mais a inteligência emocional dos aprendentes, leia o artigo: Como escolas podem estimular a Inteligência Emocional de seus alunos
Diferentes diretrizes municipais
Cada estado ou município terá uma diretriz sanitária e protocolos de retorno presencial diferentes, e, mesmo que seja por etapas, a maior preocupação ainda é a saúde e segurança das crianças e adolescentes.
Sabemos que a continuidade no ensino é pauta e preocupação constante dos educadores, como mostra o portal “Todos pela educação”, com uma lista dos maiores desafios da volta às aulas:
- Impacto emocional nos alunos e profissionais da Educação;
- Abandono e evasão escolar;
- Retorno gradual com precauções com a saúde;
- Cumprimento da carga horária exigida por Lei;
- Avaliação diagnóstica e recuperação da aprendizagem;
- Comunicação frequente com os pais e responsáveis;
- Articulação entre instituições locais que impactam a política educacional;
- Contextualização das ações no nível da escola;
- Atendimento intersetorial como esforço perene;
- Institucionalização de políticas de recuperação da aprendizagem;
- Fortalecimento da relação família-escola;
- Tecnologia como aliada contínua.
Preparação na prática
Que essa volta às aulas de maneira presencial será desafiadora, todos sabemos (está sendo!), mas ela não precisa ser indiferente ou apática, portanto, queremos compartilhar 4 dicas para que sua escola esteja emocionalmente preparada e abastecida para promover, além do desenvolvimento intelectual, acolhimento e saúde mental!
Dica nº 1: O ambiente
Não estamos aqui para falar sobre como higienizar, manter o distanciamento necessário nas salas ou refeitórios, muito menos sobre medir temperaturas ou usar álcool em gel. Queremos sugerir que, após todas as alterações nas nossas rotinas e relações, a escola seja, um ambiente que promova acolhimento e abrigo ainda mais do que antes.
Pense em seu espaço escolar e como seria incrível se ele estivesse moldado com fotos e figuras que remetam à proteção e ao cuidado (até mesmo fotos dos estudantes e educadores juntos em momentos prévios).
Você também pode utilizar uma das dinâmicas do nosso manual como, por exemplo, fazer painéis / murais ou o corredor com guarda-chuvas de coração para demonstrar fisicamente tal proteção. Plaquinhas com frases ou palavras de otimismo, cartas de incentivo e até o “emocionômetro” são ótimas opções.
Proporcionar um espaço harmonioso e experiências prazerosas fará dessa retomada uma memória afetiva com registro privilegiado para a comunidade escolar.
Dica nº 2: Os educadores e colaboradores
Reconhecer o quanto os nossos profissionais heróis e heroínas se reinventaram, venceram barreiras desconhecidas e fizeram o ensino à distância acontecer de forma tão brilhante é um dos primeiros passos para ter uma equipe emocionalmente saudável.
Para recebê-los na volta às aulas, podem ser feitos: cartazes, vídeos, pequenos mimos e até mesmo uma palestra de acolhimento por um profissional da psicologia ou áreas afins.
Leia também: Capacitação docente: como se atualizar durante o isolamento social
É imprescindível, também, proporcionar espaços de troca em um ambiente que promova a comunicação assertiva, a empatia, a valorização da coletividade, a reflexão sobre cada história, as práticas e aprendizados, além do oferecimento de recursos que possibilitem a formação e cuidado com todos.
No nosso manual, também temos algumas sugestões práticas:
- Oportunize acolhimento emocional;
- Ofereça condições e recursos necessários;
- Promova a prática do autodiálogo e do autocuidado;
- Ajude no mapeamento de suas emoções e sentimentos;
- Faça uma boa gestão do tempo (principalmente tempo para você);
- Não tenha medo de errar;
- Busque ajuda.
Por fim, e não menos importante: seja parceiro e se faça presente! Isso com certeza fará toda a diferença.
Dica nº 3: As famílias
Aposte na parceria entre escola e família para tornar esse retorno mais assertivo, programe com cautela e oportunize uma reunião on-line, uma live ou outra forma de encontro virtual prévio para apresentar as expectativas e diretrizes do retorno.
Se vocês se sentirem confortáveis, promovam uma singela homenagem aos pais que se desdobraram para conciliar o trabalho ou a rotina familiar com os estudos dos filhos (mesmo que seja uma fala ou e-mail de agradecimento e fortalecimento da parceria).
Precisamos nos atentar para que todos os envolvidos se sintam valorizados e respeitados dentro de seus costumes e diferenças. A comunicação objetiva, acolhedora e transparente é fundamental para fortalecer os vínculos e estreitar as relações.
Sabemos que, com todas as mudanças, o limiar de resistência ao estresse pode estar menos sólido e, por isso, é um momento de treinar a escuta empática.
Para se sentir mais seguro, veja este artigo com um tema relacionado (os grupos de WhatsApp na escola): Grupo de WhatsApp na escola: conheça os riscos dessa prática para pais e professores
É importante que a família perceba a escola como aliada nos cuidados com seus filhos e que ela se sinta convidada a assumir comportamentos preventivos também em casa, desde o momento em que seu filho se prepara para ir à escola, até sua chegada após a aula.
Mostrar que a escola está preparada no quesito segurança e saúde tende a diminuir a ansiedade que, na maioria das vezes, deve-se ao fato de vivenciarem algo totalmente desconhecido. Mostrar preparo também ameniza o medo das famílias, pois elas saberão que todos estão preparados para fazer com que os estudantes fiquem bem.
Semanalmente, ou em datas que o colégio considerar mais convenientes, colocar posts nas redes sociais e enviar informações em aplicativo interno, e-mails ou em grupos de WhatsApp das famílias, sugerindo que conversem com os filhos sobre como o retorno será diferente e que eles deverão colaborar com as medidas de segurança.
Enfim, sugira que as famílias registrem os maiores aprendizados da pandemia (seja em uma ferramenta de interação on-line ou em papel) e ao enviar a resposta para a escola, receba de volta uma palavra ou frase de otimismo/esperança, afinal, fomentar o melhor no outro promove generosidade mútua.
Dica nº 4: Os alunos
Finalmente, chegamos aos nossos educandos! Motivo maior pelo qual nos preparamos e preocupamos tanto com todos os detalhes anteriores!
Eles também se reinventaram na maneira de aprender e realizar tarefas e, possivelmente, estão saudosos de trocas com os colegas no ambiente escolar, portanto: oportunize espaços de partilhas para falarem sobre como foi o período de isolamento social, afinal, eles retornarão com imensa necessidade de expressar as suas vivências e entender as dos colegas.
Leia também: Como os educadores podem falar sobre o coronavírus?
Garanta que eles tenham elaborado formas de se cumprimentarem sem contato físico antes do retorno presencial para evitarem riscos de contágio (temos dinâmicas ensinando cumprimentos cheios de charme de outras culturas ou até mesmo inventados pelos alunos para este período), além de proporcionar dinâmicas para ressignificar as experiências e o novo modelo de protocolos e regras da escola.
Apenas para reforçar a importância das dinâmicas, sugerimos que elas estejam pautadas em ressaltar o papel fundamental de todos no colégio, identificação e partilha das emoções, demonstração de afeto (de maneira verbal ou escrita/desenho, mas, a distância, claro).
Garanta que eles possam refletir criticamente sobre os momentos que vivenciaram na quarentena e neste retorno e, até mesmo, que eles possam trabalhar a empatia e a sensibilidade (na construção de suas próprias máscaras, plaquinhas com avisos de segurança ou recados de afeto).
Enfim, reforce os combinados de convivência, a importância da corresponsabilidade e das relações pautadas na afetividade, no diálogo e na prática constante da gratidão!
Neste momento, é importante nos alimentarmos de coragem e bravura para recomeçar! Esperamos que essas dicas tenham feito sentido, mas não se limitem a elas, busquem também maiores informações em nosso Manual Socioemocional de Retorno às Aulas para educadores. Clique aqui para baixá-lo!
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Bruna Daniele Rodrigues de Freitas
Graduada em Psicologia, Analista do Comportamento, Discente do MBA Executivo em Desenvolvimento Humano e Psicologia Positiva e Consultora Educacional Key Account na Escola da Inteligência.