Saiba o que é, quais os benefícios e a importância de usar a comunicação não violenta no contexto familiar, ensinando-a para os filhos. Confira!
A comunicação não violenta (CNV) vai além de um modelo, regras ou padrões “lógicos” de comunicação. Trata-se de uma perspectiva feita para nos lembrar de algo que nós sabemos: a importância da conexão com as pessoas, de fortalecer relacionamentos, escutar e respeitar os próprios sentimentos, sem causar dor ou mágoa em si ou nos outros.
A CNV nos ajuda a reformular a maneira como escutamos o outro e nos expressamos. Muitas das nossas ações repetidas e reações impulsivas passam a ser substituídas por respostas conscientes, baseadas no que realmente sentimos e desejamos.
Para saber em detalhes como a comunicação não violenta pode humanizar as nossas relações, acompanhe este artigo. Explicamos as consequências de ignorar essa maneira de se expressar, quando usá-la, a sua importância no contexto familiar, como ensiná-la aos filhos e muito mais!
O que é a comunicação não violenta?
Para entender o que é a comunicação não violenta, nada melhor do que consultar o criador do conceito, o psicólogo americano Marshall Bertram Rosenberg, no seu livro “Comunicação não violenta: técnicas para apurar relacionamentos pessoais e profissionais”.
Marshall explica que a CNV se baseia num conjunto de habilidades de linguagem e comunicação que visa fortalecer a capacidade de continuarmos humanos mesmo em situações de estresse e conflito.
Os princípios da CNV surgiram de duas preocupações que acompanharam Marshall durante a vida:
- O que nos leva a nos desligarmos da nossa natureza compassiva e agir de maneira violenta?
- O que permite que algumas pessoas não se desliguem de sua natureza compassiva, mesmo em situações dolorosas?
A compaixão aparece como a nossa capacidade de reagir de maneira que não cause mágoa ou dor nos outros e em nós mesmos.
O poder da linguagem e das palavras e os seus impactos nas emoções humanas ajudaram Mashall a estabelecer os 4 princípios da comunicação não violenta. Trata-se de um breve manual para ajudar as pessoas no processo de tomar consciência de si em meio a conflitos:
- Observação: o que o outro está falando que me afeta, prejudica ou enriquece a minha vida? A ideia é desarticular a nossa observação de uma avaliação com juízo de valor de bem ou mal e simplesmente perceber o que nos agrada ou não;
- Sentimento: a partir da observação, devemos entender como os nossos sentimentos estão reagindo. Estamos nos sentindo alegres, magoados, injustiçados, furiosos diante do que nos foi dito?
- Necessidade: o próximo passo é identificar uma necessidade nossa que nos leva a reagir com tal sentimento. Por exemplo, uma criança pode dizer “estou triste (sentimento) porque você me proibiu de brincar (necessidade)” ou “estou furiosa (sentimento) porque devo arrumar o meu quarto (ação que, em princípio, vai contra a sua necessidade no momento da interação)”;
- Pedido: o passo seguinte é expressar esses três componentes e terminar com um pedido honesto que tenha o objetivo de apaziguar a situação de conflito. No último exemplo, a criança que disse “estou furiosa porque devo arrumar o meu quarto” pode terminar a sua fala pedindo: “você pode me ajudar na arrumação?”.
Muitas pessoas seguem esses princípios quase que naturalmente, mas tomar consciência disso garante que se crie um fluxo dos dois lados no qual o outro também se expressa com compaixão e se mostra disposto a ouvir.
Quando usar a comunicação não violenta?
Esse modo de usar a linguagem é aproveitado em todos os níveis de comunicação, desde os relacionamentos íntimos até o convívio com familiares e pessoas da escola/faculdade, grupos de empresas, reuniões, negociações e qualquer outro tipo de situação sujeita a conflitos.
Portanto, não se trata de saber quando usar a comunicação não violenta, mas de integrá-la aos seus valores de vida e fazer dela uma forma saudável de se relacionar consigo e com os outros.
A necessidade de adotar os princípios da comunicação não violenta, por outro lado, pode ficar mais evidente a partir de diferentes caminhos.
Algumas pessoas lidam com uma rotina de reuniões desgastantes, discussões, trânsito e prazos que acaba exigindo muito da saúde física e mental. Nesse caso, o âmbito profissional é o principal alerta para a importância de usar a comunicação não violenta.
Outras já precisam lidar com maiores problemas ligados ao relacionamento no âmbito escolar ou no convívio com familiares. As vias de acesso ao reconhecimento do problema podem ser distintas, mas as vantagens abarcam todos os espectros de convivência social.
No caso da escola, é importante saber que um psicólogo na educação pode ajudar a criança se relacionar melhor com os colegas.
Quais são as consequências de ignorar a comunicação não violenta?
Uma das discussões que o psiquiatra e escritor Dr. Augusto Cury faz em seu livro “Treinando a emoção para ser feliz” é sobre a importância de aprender a pensar com qualidade. Nessa reflexão, encontramos uma lição valiosa para se expressar baseando-se na comunicação não violenta.
O autor nos explica que “pensar e agir devem rimar na mesma poesia”. Quem pouco pensa acaba conturbando o ambiente, aflorando em suas ações o descontrole do pensamento, e quem pensa demais acaba se desgastando de maneira excessiva.
Pensar pouco, não entender como o mundo afeta os nossos sentimentos, leva à insensibilidade para se emocionar com a beleza das coisas. Não controlar os pensamentos, por sua vez, pode gerar sujeitos com frágeis habilidades socioemocionais.
Tudo isso faz com que nos esqueçamos da empatia e lutemos para defender um ego ferido. Isso se reflete quando se deseja “dar o troco” ou “responder na mesma moeda”. Na prática, o que acontece é descarregar frustrações em pessoas queridas, alimentar ressentimentos e perder o genuíno interesse no que os outros têm a nos dizer.
A comunicação não violenta surge como uma linha condutora sutil para “pensar com qualidade”. Para isso, precisamos tomar consciência de nós mesmos e perceber como o mundo ao redor nos afeta e como podemos dar respostas realmente resolutivas para nos conectarmos como seres humanos.
Qual é sua importância no contexto familiar?
A família é o primeiro ambiente de convivência, no qual uma pessoa aprende a se relacionar com os outros. Normalmente, é um lugar sem contato com as burocracias e o estresse cotidiano, que garante o conforto para interagir com os mais próximos e cultivar momentos alegres.
Mas isso não significa que devamos dar voz a todos os sentimentos quando estamos entre familiares, pois eles podem vir repletos de frustrações, mágoas e ressentimentos. Esse cuidado é importante, sobretudo, quando precisamos conversar com os adolescentes centennials.
Agir no caminho oposto à comunicação não violenta, isto é, deixar-se levar pelo desgoverno de uma comunicação violenta, marcada por respostas curtas e ásperas, discussões e brigas, alimenta um desgaste emocional prejudicial a todos que fazem parte do núcleo.
A comunicação não violenta é uma maneira de impedir que problemas do dia a dia, como lavar a louça, arrumar a cama ou desligar o ar-condicionado, transformem-se em situações traumatizantes e apaguem os bons motivos que unem uma família.
Quais são os desafios da utilização da comunicação não violenta?
Há desafios no processo da comunicação não violenta. A primeiro etapa é querer a mudança, e isso implica, muitas vezes, em “sair da zona de conforto”, dar um passo à frente.
É comum sentir medo de parecer fraco ao falar de sentimentos, mas a verdade é que isso é demonstrar um genuíno traço de saúde emocional. Veja, em mais detalhes, quais são esses desafios!
Julgamento não é um problema
A comunicação não violenta não nos leva a simplesmente parar de julgar. O objetivo é entender como determinado juízo de valor reflete o nosso estado emocional e as nossas necessidades e o que podemos fazer com ele, como podemos utilizá-lo para nos conectarmos de maneira sincera com os outros.
O julgamento é parte do processo de reflexão para arranjar soluções realmente úteis para todos os lados. Conforme colocamos em prática esse aspecto, vale a pena, em vez de dar voz aos nossos julgamentos, usá-los para perguntar mais, saber como os outros se sentem e bolar soluções em conjunto. Isso cria e fortalece conexões emocionais entre as pessoas.
Tudo parte do autoconhecimento
Outro desafio comum no processo de construção, ou desconstrução, promovido pela comunicação não violenta é o autoconhecimento. Se a ideia é reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, é importante levar esse exercício para a vida. Pode ser uma aventura da qual você jamais queira sair!
Atenção ao impacto do que você tem a dizer
Vale a pena entender a diferença entre intenção e impacto do que temos a dizer. Isso, porque a nossa intenção nem sempre é refletida no que as nossas palavras geram.
De fato, é impossível mensurar exatamente como o outro vai receber o que nós dizemos, pois esse processo é influenciado por diversos outros fatores alheios às nossas possibilidades.
De todo, é importante dar a melhor forma à nossa intenção, saber como dizer, e não simplesmente expulsar todas as sílabas que vêm à mente. No final das contas, é o impacto das nossas palavras que faz as engrenagens da comunicação funcionarem.
Como praticar a comunicação não violenta?
Algumas atitudes simples, baseadas nos 4 princípios definidos por Marshall Rosenberg, podem ser úteis ao nosso dia a dia. Vejamos logo abaixo!
Interaja com comentários descritivos
Uma ótima maneira de demonstrarmos como nos sentimos em relação às coisas, situações ou pessoas é evitar comentários taxativos, como julgamentos reduzidos a adjetivos (“egoísta”, “simpática”, “insensível”).
Vale a pena optar por descrever como você se sente. Assim, as pessoas conseguem saber verdadeiramente o que podem fazer para melhorar o relacionamento.
Por exemplo, quando é necessário explicar a uma criança que ela insultou você ou alguém com suas palavras, mesmo que sem querer, descreva os impactos que foram causados e as consequências do ato, em vez de reduzir o sermão a “você está errada” ou “já para o quarto!”.
Acesse os próprios sentimentos
Escute os seus sentimentos e as suas necessidades que foram aflorados diante de uma situação de conflito. Treine a prática de expor essas percepções e pedir para que a outra pessoa entenda.
Não acessar os próprios sentimentos abre a oportunidade de colocar a culpa sobre a outra pessoa. Isso cria uma barreira que não permite diálogos e que apenas alimenta a situação de conflito.
Faça pedidos específicos e sinceros
Forçar alguém a fazer algo que você quer pode criar uma falsa sensação de “vitória” no final do argumento, e isso tem o seu preço. A pessoa passa a se submeter para satisfazer outras vontades e se sente cada vez mais afastada emocionalmente.
Desse modo, o risco de o mesmo processo acontecer novamente, agora vindo da outra pessoa, é maior e vai impossibilitando a criação de uma conexão genuína e desgastando a relação.
Pedidos específicos, por outro lado, são baseados nas nossas necessidades e têm maiores chances de ser atendidos sem rancor ou ressentimentos. É importante que eles foquem no que você quer, e não naquilo que você não quer.
Por exemplo, “Não fale alto” pode ser substituído por “Você pode falar um pouco mais baixo?”.
Como ensinar a comunicação não violenta aos filhos?
É possível se comunicar com as crianças e fazê-las compreender o que temos a dizer sem utilizar violências físicas, verbais ou estruturais. Baseando-se na comunicação não violenta, construímos uma educação infantil cultivando o amor e o carinho que temos por nossos filhos.
As dicas a seguir visam lhe trazer alguns instrumentos práticos para acolher as crianças e o que elas sentem em situações de conflito, para que todos consigam extrair algo de positivo de tudo isso.
Ouça e demonstre que está ouvindo
A maneira mais didática de ensinar a comunicação não violenta para uma criança é fazendo-a perceber como essa noção acontece na prática. A ideia é que a criança entenda naturalmente que esse processo é a forma mais eficaz de lidar com os sentimentos.
Lembre-se de que ela é tomada por um turbilhão de sentimentos em diferentes situações, sendo que muitos deles são até novidades, e às vezes é normal que não saiba reagir bem e se sinta insegura.
Portanto, ao testemunhar momentos de fúria ou tristeza, a atitude mais nobre a se tomar é escutar tudo com atenção. Ouça sem interromper e faça pequenos gestos que ratifiquem a sua atenção, como confirmar com a cabeça e responder “sim, sim” ou “entendo”.
Ajude a identificar os sentimentos envolvidos
Escutar o que a criança tem a dizer nos ajuda a nomear diretamente o que ela está sentindo. É importante que tudo isso aconteça num lugar confortável e seguro, em que ela possa relatar exatamente o que aconteceu e como se sente.
Pergunte se ela está sentindo vergonha, raiva, tristeza ou outro sentimento. Saber que um adulto entende o que está se passando, por si só, já é um grande alívio.
Conduza a conversa para uma solução
Identificado o sentimento, pergunte o que ela acha que os dois podem fazer a respeito. Incluir-se na resolução do problema transmite confiança e aumenta a autoestima dos filhos.
Sugira ideias e espere respostas. Conduzir o raciocínio da criança permite que ela desenvolva a sua maturidade emocional. Explique que tudo não vai se resolver do dia para a noite, mas que os dois farão o possível.
Evite reduzir o problema a “todo mundo passa por isso” ou “já vai passar”, pois a criança pode se sentir frustrada por ficar magoada “por uma besteira”.
Até aqui, aprendemos o que Marshall Rosenberg quis dizer com o conceito de comunicação não violenta, porquê não ignorar essa solução, a sua importância no contexto familiar e como praticá-la e ensiná-la aos filhos. Esperamos que as nossas dicas sirvam para você se aprofundar no tema e melhorar a qualidade dos seus relacionamentos.
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