Somos seres relacionais. Veja como a valorização do outro é fundamental na construção de relacionamentos saudáveis.
Aristóteles, o famoso filósofo da Grécia antiga, já dizia que o ser humano é um ser gregário, está propenso a uma vida sociável, portanto, precisa de outras pessoas para se sentir pleno e feliz. O fato é que o indivíduo participa de diferentes grupos, desde a mais tenra idade, em uma incessante busca de sua identidade individual, permeada pela necessidade de uma identidade grupal e social.
Hoje em dia, as sociedades estão cada vez mais adensadas. No início do século XX, o mundo contava com uma população de um bilhão de pessoas, um século depois, a China e a Índia calculam, individualmente, esse contingente populacional. Levando em consideração que estamos cada vez mais próximos fisicamente e que a nossa plenitude se dá na relação, precisamos pensar sobre o papel da valorização do outro na construção de relacionamentos saudáveis.
Quantas vezes, diante de um conflito, valorizamos mais o erro do que a pessoa que erra? Queremos ganhar a discussão ao invés de ganhar nosso interlocutor, nos tornamos ótimos em acusar e péssimos em apoiar. E, no foco de tensão, perdemos a capacidade de pensar antes de agir e reagir, pois não conseguimos enxergar a situação por diferentes perspectivas, deixamos de nos expressar com empatia e receber com acolhimento.
Afinal, o que são relacionamentos saudáveis?
São aqueles fundamentados no diálogo, na compreensão e na escuta empática, nos encontros autênticos, na presença genuína, carregam consigo, ainda, a arte de surpreender e a generosidade. Em oposição a tudo isso, temos relações nas quais as pessoas se tornam peritas em reclamações mútuas, impera o egoísmo, a cobrança, a ansiedade e a necessidade de estar sempre certo.
Evidentemente que, por mais saudável e permeada de amor que seja uma relação, vez ou outra, os desentendimentos surgirão. Todavia, quando bem administrados, trazem ensinamentos, possibilitam que se desenvolva a resiliência e tantas outras competências e habilidades essenciais para a vida.
Sabemos que conviver é uma complexa tarefa, dotada ambiguamente de alegrias e angústias. Em meio a ambivalência, construímos relacionamentos saudáveis quando aprendemos a nos doar sem esperar a contrapartida do retorno, quando entendemos que, por detrás de uma pessoa que fere há uma pessoa ferida, quando conquistamos primeiro o território da emoção, para, só então, conquistar o território da razão.
Construímos sólidas relações interpessoais quando aprendemos a enxergar para além da cortina do comportamento, quando conhecemos os capítulos mais importantes da história das pessoas que amamos e a recíproca é verdadeira, quando, igualmente, permitimos que o outro nos conheça intimamente.
Será que temos compartilhado nossos sonhos, medos, metas, desafios, alegrias, angústias, tristezas? Temos cruzado mundo emocionais com as pessoas a nossa volta? Temos praticado a valorização do outro?
O poder da valorização do outro
Como você costuma agir quando alguém importante para você erra? Quando valorizamos e encorajamos alguém, mesmo diante de uma falha, oportunizamos que suas potencialidades sejam reconhecidas. Mas, só conseguimos fazer isso quando rompemos o cárcere do fenômeno “bateu-levou” com o silêncio proativo – aquele que, no foco de tensão, faz com que nos calemos por fora e dialoguemos por dentro, para que posteriormente possa se estabelecer um conversa mais sensata, sábia, madura e sem arrependimentos.
Existe, em uma tribo africana, uma tradição que muito nos ensina. Quando um de seus membro erra, é levado ao centro da aldeia e rodeado por toda a tribo. Durante dois dias, é dito a essa pessoa todas as coisas boas que ela já fez ao longo de sua vida. Isso acontece para que ela se lembre de quem realmente é, e se reconecte com sua verdadeira essência.
A forma como essa comunidade enxerga o erro, lida com ele e, principalmente, como pratica a valorização do outro, nos convida a olhar para os nossos relacionamentos. Temos estendido a mão ou apontado falhas? Temos valorizado quem está ao nosso lado?
Do autoconhecimento à autovalorização e valorização do outro
Continue pensando na relações que tem estabelecido com as pessoas próximas. Como suas atitudes têm interferido na qualidade de suas vivências e na sua saúde emocional?
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman aponta a transitoriedade das nossas relações. Nós nos conectamos com o outro com muita rapidez, no entanto, nos desconectamos com a mesma velocidade, são tempos de modernidade líquida. Nossas relações têm sido estabelecidas a partir do conceito de rede, mantidas por duas atividades de escolha individual: conectar-se e desconectar-se.
Sendo assim, o autoconhecimento, entendido como a capacidade de reconhecer as próprias emoções, valores pessoais, objetivos de vida, é de suma importância para refletirmos sobre a relação que estabelecemos conosco e com o outro.
Nesse sentido, o Dr. Augusto Cury nos lembra que devemos, em primeiro lugar, ter um caso de amor com a nossa saúde emocional, ser nosso fã, nos abraçar e nos valorizar, como seres humanos únicos no teatro da existência. Quando (re)conhecemos nossas potencialidades e limitações, nos tornamos mais tolerantes e empáticos com o outro.
Quando foi a última vez que você se mapeou? Dialogou com os seus sonhos, medos, anseios, expectativas? Talvez seja um exercício emocionalmente dolorido, que nos tira da zona de conforto, nos faz olhar para aquilo que estava embaixo do tapete, mas é essencial.
Somente quando nos conhecemos, conseguimos cuidar de nós mesmos e, assim, atribuir valor a todas as vertentes da nossa vida: física, social, emocional e espiritual.
Não existe outro caminho a não ser compreender que construir relações saudáveis em nossas vidas implica em, primeiramente, desenvolver uma boa relação com nós mesmos.
Que cada vez mais possamos olhar para nós mesmos com cuidado e afeto, prestando atenção às nossas necessidades para que possamos cultivar o nosso bem-estar físico e emocional. Que possamos humanizar nossas relações, aprendendo a nos autoavaliar, corrigir nossas rotas e valorizar a nós mesmos e o outro.
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Rafaela de Oliveira Perim
Graduada em Psicologia pela PUC, especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo IPCS e MBA em gestão de pessoas e liderança pela FGV. Atuou como orientadora pedagógica e professora e há 6 anos, faz parte da família EI, passando por consultora, coordenadora e, hoje, atua como gerente educacional regional.