O que é Corresponsabilidade inevitável e como um comportamento seu pode impactar na vida de seus filhos e na sociedade como um todo?

Nunca ficou tão evidente a inter-relação existente entre todas as pessoas do planeta como agora, na pandemia. Habitantes de qualquer país do mundo temem e torcem pelas atitudes de conterrâneos e vizinhos, porque têm a certeza de que os seus comportamentos impactarão na forma como viveremos.

Essa estreita ligação entre as pessoas, a natureza e a sociedade tem o nome de corresponsabilidade inevitável. Em linhas gerais, não há, de modo algum, como evitar que as nossas decisões e atitudes impactem o mundo. Sendo assim, enquanto sujeito neste planeta, serei sempre responsável, junto com a sociedade, pelas consequências dos meus comportamentos.

Para ilustrar, pensemos em um exemplo do cotidiano: ir ao parque e não recolher o lixo poderá contribuir para o entupimento de bueiros e alagamentos quando uma chuva vier, ocasionando riscos e prejuízos para alguém. Essa consequência, porém, não será imprimida necessariamente para mim, em primeiro plano, mas os seus reflexos secundários sim. 

As consequências do meu comportamento se conectam com as consequências dos comportamentos dos outros e, juntas, todas causam grande impacto no meio ambiente. Para efeitos positivos, a relação “em onda” é a mesma. É sempre necessário que alguém dê o primeiro passo.

Corresponsabilidade inevitável no ambiente familiar

Se, com o exemplo da destinação inadequada do lixo, conseguimos entender com clareza o conceito de Corresponsabilidade Inevitável, vamos aprofundar sobre como ela também atua num contexto mais íntimo e menor: o familiar.

Primeiramente, destaca-se que parte muito importante da grande teia social é a família e é ela quem representa uma espécie de pequena sociedade, com muitas regras, relações de troca e uma mini-cultura própria, onde comportamentos são aprendidos e, depois, exercidos, inclusive, da porta para fora. 

Não há como descolar nossa atuação em família da sociedade. A sociedade só é como é porque permitimos e atuamos para que seja.

Como nós, pais, somos os grandes exemplos e os maiores estímulos para a construção de memórias dos filhos, precisamos escolher quais atitudes são as mais assertivas no trato com eles, certos de que não há como nos distanciarmos das consequências de nossos atos. Uma elaborada forma de pensar está ao responder a pergunta: que tipo de eco esta minha ação promoverá no mundo, tanto interno do meu filho, como social?

Deste modo, desenvolver a consciência da Corresponsabilidade Inevitável na família é um grande desafio para os responsáveis. Primeiro, porque, enquanto cuidadores, somos os maiores exemplos aos nossos filhos e os estímulos mais marcantes na construção de suas memórias, porém somos carregados de vícios e pensamentos não-saudáveis. 

A Corresponsabilidade Inevitável nos revela que qualquer atitude nossa acarretará consequências: tanto os comportamentos assertivos e afetivos quanto os comportamentos que se desalinham do nosso plano ideal de educação e que, não raras vezes, escapam de nós. Quando isso acontece, sempre se instalam dúvidas e ressentimentos.

A consciência da Corresponsabilidade Inevitável é, ainda, um compromisso, pois norteará nosso papel de educadores na formação de nossos filhos como cidadãos mais empáticos e altruístas, desde o micro contexto dentro de casa às ações que eles revelarão no mundo. 

Nesse sentido, a responsabilidade dos cuidadores vai além do comportamento ideal ou acertado, mas engloba, sem sombra de dúvidas, todo um processo de autoconhecimento, perdão e realinhamento de rotas. 

Esta conexão entre mim, o outro e o mundo é inevitável, porém não-rígida. Nem sempre haverão acertos ou consequências congruentes ao que se desejava, mas nitidamente podemos refletir e agir sobre os reflexos dos nossos comportamentos no desenvolvimento dos filhos.

Cientes disto, é preciso entender com clareza: que cidadão queremos formar? O quanto nossas decisões impactam nos comportamentos dos nossos filhos? É preciso repensar e interromper padrões? Como a minha atuação impacta o mundo em que estamos?

Se as pessoas e famílias constroem uma sociedade a partir de seus comportamentos e do reflexo que eles produzem, é nítido que temos um papel importantíssimo na construção de um mundo melhor para agora e depois, para os meus e para os outros.

A educação socioemocional e a corresponsabilidade inevitável

A Educação Socioemocional disponibiliza ferramentas essenciais que irão lhe ajudar na educação dos filhos. É ela quem vai expandir os horizontes de reflexão para além do nicho casa, ampliando as perspectivas para uma escolha cada vez mais elaborada e voltada para o bem social.  Empatia, Responsabilidade, Consciência Social são algumas competências desenvolvidas a partir da Educação Socioemocional que, ao estimular o desenvolvimento pleno dos sujeitos, corrobora também para menores incidências de cicatrizes individuais, no outro e no mundo.

Para além disso, a Educação Socioemocional exercitada traz sentido à essência humana, tão perdida na nossa sociedade, pois provoca o exercício do pensamento como espécie, num nível que extrapola as fronteiras “do próprio umbigo” e nos provoca a ampliar nosso olhar, alterar ciclos e, muito além disso, criar “ondas” de solidariedade e empatia que ressoam por nossa família e pelo mundo.

Gostou desse conteúdo? Agora que você compreendeu a importância do pensamento em espécie e da corresponsabilidade inevitável e as vantagens de aplicá-la na sua vida em família e em sociedade, que tal saber, de forma mais prática, como educar filhos emocionalmente saudáveis, que refletem sobre suas atitudes e pensamentos? Para isso, leia este artigo: Ensinar a pensar ou ensinar a obedecer

Renan Machado Pianissola
Psicólogo, formado pela Universidade Vila Velha/ES, possui especialização em Psicologia Educacional e da Aprendizagem e pós-graduação em Competências Socioemocionais. Atualmente, é consultor educacional da Escola da Inteligência.