Confira o artigo da nossa consultora Susana em que ela aborda a importância do ato de pensar e o desenvolvimento do pensamento crítico.
A era da tecnologia e a mudança nos padrões
A globalização e a inovação atingem diariamente crianças e adultos, dentro das casas, escolas e empresas. Diante desse novo cenário o padrão de educação e formação profissional também está sofrendo alteração.
Principalmente quando lembramos que, antes, o padrão era obedecer mais do que pensar. Padrão esse, que está mudando, uma vez que a velocidade da informação está desafiando e estimulando a todos.
Uma pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil mostrou que a cada 10 crianças e adolescentes, 8 são usuários da Internet. Além disso, em outra pesquisa realizada pela TIC Kids Online Brasil, uma das práticas preferidas desse público é a busca por notícias e informações da atualidade.
O que devemos adotar na educação dos nossos filhos e alunos?
Nesta realidade em que os questionamentos e buscas estão cada vez mais presentes, o “obrigar” torna-se obsoleto caso venha sem bons argumentos e desconexo, levando em consideração que nos tornamos mais eficazes quando passamos a compreender diversos assuntos e técnicas.
De acordo com a Análise do Comportamento, teoria da área da Psicologia, ao observarmos um comportamento precisamos considerar 3 níveis: a história evolutiva da espécie; os aprendizados obtidos em sua construção de vida; a cultura que está inserido.
Além disso, segundo o psiquiatra Dr. Augusto Cury, em seu livro “A Fascinante Construção do Eu”, temos variáveis que involuntariamente constroem nossas memórias e pensamentos, e, caso não haja intervenção, esses fenômenos tornam-se comportamentos.
Levando em conta essas duas análises sobre a origem dos comportamentos e da construção dos pensamentos, podemos concluir que nossa formação enquanto ser humano não é mero seguimento de instruções, é algo que vai além, multiforme e complexo.
Portanto, podemos escolher entre dois papéis: atores principais ou coadjuvantes da nossa biografia.
Dessa maneira, fica superficial para uma criança ou adolescente ouvir e obedecer a normas e não fazer parte dessa construção, visto que aquilo será somente repetição de comportamento e não uma atitude que passou pela compreensão da importância do seu papel na formação de sua história.
Se os ensinarmos a pensar sobre a importância de se cuidar, cuidar dos outros e do meio ambiente, mostrando-lhes ações e consequências (não no sentido de punições, mas de resultados), eles farão parte da análise: o que eu faço produz impacto a mim e ao que está a minha volta.
Percepção das atitudes x Imposição de regras
No material da Escola da Inteligência destinado ao 9º ano, intitulado “Ser Humano Sem Fronteira’, é abordado o conceito Corresponsabilidade Inevitável. Esse conceito considera que todos nós estamos interligados, interconectados e entrelaçados.
Sendo assim, há uma responsabilidade mútua nas relações e comportamentos que temos, afetando uns aos outros e às ações desencadeantes. Estamos unidos não somente pelas redes sociais, mas também pelas redes emocionais invisíveis.
Por exemplo, uma criança entende o desdobramento da atitude dela caso jogue lixo no chão? Ou ela deixa de fazer isso por se lembrar que caso jogue lixo no chão, seus pais ou seu professor podem ‘brigar com ela’. Qual seria a análise mais permanente e eficiente?
O ideal seria que essa criança fosse aos poucos, respeitando seu nível maturacional e fosse ensinada a compreender que se ela jogar lixo no chão, essa atitude afetará diretamente e indiretamente o ambiente que vive. Assim, aos poucos, essa criança vai arquivando em sua memória a dimensão do que essa ação pode causar.
O real sentido das regras
Trazendo para a vida adulta e profissional, esforçar-se para um bem comum (sucesso da empresa) não é responsabilidade somente da gestão. Como seria satisfatório se cada um compreendesse seu papel e o impacto dele em todas as esferas da sociedade, não é mesmo?
Por isso, o autoconhecimento é extremamente importante, pois precisamos chegar a reflexão sobre o que fazemos, pensamos e sentimos (Cury, 2011). E, por meio desta análise, observar se não estamos presos às armadilhas da mente ou a comportamentos repetitivos e longe de uma autoconsciência.
As regras existem para termos uma sociedade harmoniosa, mas vale lembrar que não somos uma máquina de aplicação delas.
O objetivo deste texto não é combater padrões e questionar dogmas, mas sim, que cheguemos à importante reflexão de quão importante é a construção da educação para que tenhamos pessoas mais analíticas e pensativas, e o incentivo às crianças e adolescentes a pensar sobre as coisas, situações e também sobre os próprios comportamentos e pensamentos, a fim de que se tornem cidadãos mais coerentes e conscientes.
O pensamento crítico
Queremos que crianças, jovens e adultos saibam utilizar a tecnologia de forma adequada, que saibam analisar as emoções e pensamentos que não controlamos a fim de extrair aprendizado e não uma reação impulsiva. Desta forma, executarão a competência socioemocional que abordarmos este ano na Escola da Inteligência: pensamento crítico.
Nosso intuito enquanto pais e/ou educadores é que essa e a próxima geração sejam capazes e fortes emocionalmente ao ponto de que ao se olharem no espelho, vejam além dos atributos físicos. Que essas crianças e adolescentes possam perceber que obedecer a padrões de beleza impostos pela mídia, por exemplo, podem lhes prejudicar e que não definem o ser humano brilhante que são.
Pois, conforme é citado no livro O Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos”. E o que é essencial para este Novo Mundo? O que é importante para esta geração atenta, curiosa e questionadora? As habilidades socioemocionais. São elas que impulsionarão para uma melhor autoestima, autoconhecimento e a mudança de padrões que não colaboram para o próprio desenvolvimento. Mudança é uma atitude para corajosos e só pode começar por si mesmo.
Precisamos utilizar mais nossa capacidade criativa e de construção de pensamentos. Pois, caso não façamos essa leitura sobre o mundo de forma analítica e envolvida, seremos apenas mais um na multidão, que faz parte de uma massa que faz por obrigação ou porque “foi assim que me falaram”.
Susana Rodrigues Oliveira
Graduada em Psicologia, especialista em Gestão de Pessoas e Comportamento Humano, formação extensiva em Transtornos Psiquiátricos. Atuação em Psicologia Escolar e Orientação Familiar.
REFERÊNCIAS:
CURY, Augusto. A fascinante construção do eu. 2011.
CURY, Augusto. Inteligência socioemocional: a formação de mentes brilhantes. Edição exclusiva.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine De. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2005.
https://faggiani.wordpress.com/2007/04/03/um-pouco-de-psicologia-e-analise-do-comportamento-parte-1