Neste artigo nossa consultora Karina Delgado aborda como é possível enfrentar o bullying na escola e promover um ambiente mais saudável entre os alunos.
Você já deve ter tido conflitos alguma vez na vida, já pode ter julgado uma pessoa em algum momento ou ter sido julgado, discutido, exagerado em uma brincadeira ou presenciado alguém que já exagerou, mas isso não necessariamente pode ser classificado como bullying.
Se foram situações pontuais, não recorrentes e não intencionais, não podemos dizer que foi bullying. E é muito importante que possamos saber diferenciar o que gera desconforto e sofrimento por repetição e intenção, daquilo que foi um episódio momentâneo, muitas vezes impulsivo ou impensado.
No entanto, independentemente se foi apenas um conflito isolado ou uma ação repetida, e que gerou grande incômodo por parte de quem a recebeu, vale o exercício da autocrítica e da empatia.
O que é o bullying e como ele se manifesta na escola?
O bullying é caracterizado por atitudes agressivas, intencionais e repetitivas em que a vítima encontra-se, por algum motivo, em desvantagem na situação. Os seus efeitos são negativos para a escolarização, a saúde e o desenvolvimento psicossocial de quem sofre com ele.
Segundo o psiquiatra e autor Augusto Cury, o bullying é uma maneira de produzir traumas poderosos e inesquecíveis na vida dos envolvidos. Além de surgir da relação aluno-aluno, pode também existir na relação executivo-colaborador, ou até mesmo professor-aluno. A agressividade física e, sobretudo, a socioemocional (que pode abranger humilhação, apelidos, pressão) geram na vítima janelas Killer, ou seja, janelas que estão vinculadas à negatividade e, muitas vezes, a traumas.
Gerenciamento das emoções para lidar com o bullying
Cury destaca que, no mundo todo, procura-se evitar o agressor, o que é totalmente insuficiente. Em nosso programa, Escola da Inteligência, buscamos de diversas formas proteger a mente do agredido e estruturar seu Eu para que seja líder de si mesmo, o que faz toda a diferença no desenvolvimento da saúde emocional.
Para ele, pais e professores são os seres humanos mais notáveis do teatro social, porém, quando não gerenciam suas emoções, podem produzir um teatro de terror. O que isso quer dizer? Que em cinco segundos ninguém faz um brilhante discurso, mas nesse mesmo tempo é possível mudar uma história para o bem ou para o mal!
Pais que falam aos filhos no pico do seu estresse frases como “Você só me decepciona!”, ou professores que quando estão em situações que são colocados à prova e lançam aos seus estudantes “Você não vai virar nada na vida!” não colocam, em hipótese alguma, limites inteligentes neles. Produzem, na realidade, janelas Killer duplamente poderosas, que podem nunca mais ser esquecidas.
Nesse sentido, ele destaca que muitos que sofrem bullying podem ser capazes de reciclar e escapar da órbita da dor, por terem um Eu forte, o que os torna resilientes. Porém, geralmente, o bullying não resolvido é uma forma cruel que sabota o desenvolvimento do Eu.
Bullying no ambiente escolar e prevenção
A presença de bullying na escola pode modificar de maneira negativa o clima escolar e, por sua vez, levar para os estudantes uma sensação de insegurança e de desorganização por parte da escola. Nesse contexto, ainda é possível que os alunos não envolvidos também comecem a agredir colegas em busca de autoproteção ou para não serem identificados como vítimas potenciais, o que reforça a reprodução das situações de bullying.
Além disso, segundo a psicóloga Telma Vinha, viver o bullying de perto, sem que haja intervenções para cessar essa prática, pode levar a uma crença de que se comportar de maneira agressiva pode ser aceitável e eficaz para se alcançar determinados objetivos, o que pode tornar os estudantes mais insensíveis acerca dos efeitos emocionais desse tipo de violência.
Sendo assim, em situações abusivas, é necessário pensar além de uma prática que proponha a mediação do bullying, pois o alcance mostra-se reduzido.
É importante investigar quais são as causas do bullying para se conseguir uma solução, por meio de reuniões individuais, por exemplo, mas também é necessário pensar em ações coletivas com os envolvidos. Vale ressaltar que ações remediativas, no entanto, devem ser empregadas quando a situação já se instaurou. Porém, é muito importante investir na prevenção do fenômeno, isto é, realizar projetos antibullying.
A escola, nesse sentido, tem o papel de cumprir sua função educativa ao propiciar aos sujeitos a possibilidade de mudança, de se restaurar e aprender valores. Entender a diferença adequada entre conflitos e intimidações sistemáticas não é algo superficial, visto que guia e conduz à intervenção.
União entre família e escola
A família também precisa educar e oferecer possibilidade de mudança! A boa comunicação, o envolvimento afetivo com os filhos e o apego positivo por parte das figuras parentais são interações familiares percebidas como fatores de proteção para o fenômeno.
Nesse cenário, ressalta-se a importância do programa Escola da Inteligência para o tão necessário laço entre a família e a escola, visto que desenvolve um trabalho multifocal, isto é, que envolve a instituição, os professores, os alunos e a família. A finalidade é desenvolver competências socioemocionais alinhadas ao MEC tais como a empatia, o pensamento crítico, a autogestão e o autoconhecimento, dentre outras, justamente contribuindo para prevenção desse cenário nas instituições de ensino.
Dentro dessa proposta, são trabalhadas mais de 50 habilidades, como pensar antes de agir e reagir, tão importante quando se considera o outro nas relações interpessoais.
Portanto, da mesma maneira que um conflito isolado não pode ser caracterizado como bullying, o bullying também não pode ser examinado isoladamente, pois envolve um conjunto de fatores que devem ser levados em consideração.
Não podemos trabalhar apenas com um projeto pontual que vise remediar uma situação já instalada no ambiente escolar. E nem deixar de unir forças entre família e escola. Tudo o que puder ser feito para lidar com a situação já instaurada será bem-vindo sim, mas o melhor remédio sempre será a prevenção, evitar o uso de medidas secundárias e, claro, uma boa dose de afeto!
E como diria Cortella:
“Uma educação que vise fazer com que a pessoa seja mais livre, mais humana, mais capaz, é a educação que procurar liberar, no lugar de adestrar, é a que oferece independência, em vez de dependência ou subestimação. Educar é, acima de tudo, ajudar a emancipar alguém nas suas capacidades e ideias.”
E que possamos educar de maneira mais humana, que liberte e não adestre, mas que ofereça emancipação para as melhores ideias e capacidades dos estudantes!
Se interessou pelo assunto? Saiba mais sobre como a Escola da Inteligência ajuda no combate ao bullying!
Karina Benetelli Delgado
Graduada em Psicologia pela PUC Minas, especialista em Avaliação Psicológica pela mesma instituição. Extensão em Transtornos Linguísticos e Aritméticos pelo IFSULDEMINAS. Atualmente faz parte da família EI como consultora educacional.
REFERÊNCIAS:
CORTELLA, Mario Sergio. Pensar bem nos faz bem!: filosofia, religião, ciência e educação. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
CURY, Augusto. 2º regras de ouro para educar filhos e alunos: como formar mentes brilhantes na era da ansiedade. 1ª ed. São Paulo: Planeta, 2017.
OLIVEIRA, Wanderlei Abadio de et al. Percepções de estudantes sobre bullying e família: um enfoque qualitativo na saúde do escolar. Cad. saúde colet. [online]. Rio de Janeiro, vol. 27, 2019, p.158-165, abr./jun. 2019. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-462X2019000200158&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 1 de ago 2019.
SILVA, Jorge Luiz da et al. Prevalência da prática de bullying referida por estudantes brasileiros: dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2015. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. Brasília, vol.28, jun. 2019. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222019000200304&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 1 de ago 2019.
VINHA, Telma. Intervenções específicas para parar o bullying, s/d. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/9112/intervencoes-especificas-para-parar-o-bullying. Acesso em: 5 ago 2019.