Confira a explicação do nosso consultor educacional, Anderson Araujo, sobre como o cérebro do seu filho funciona, sendo criança ou adolescente!
Você já parou para pensar que aquele comportamento impulsivo do seu filho adolescente, ou aquela birra que o seu filho de 3 anos de vez em quando comete, estão totalmente ligados ao estágio de desenvolvimento cerebral? O cérebro de uma criança de 3 anos é muito diferente de uma criança de 10 e muito diferente também, de um jovem de 18.
Graças aos avanços tecnológicos e às pesquisas na área da neurociência, hoje conseguimos entender com muito mais precisão como o cérebro humano funciona, e com isso, é possível entender o que ele está apto a desempenhar em cada fase do desenvolvimento de crianças e jovens.
Você sabe por que o jovem só é emancipado aos 21 anos? Porque é nessa idade que o cérebro humano está completamente formado e capaz de desempenhar todas as suas funções mais complexas. Vamos entender um pouco como funciona o cérebro em relação as emoções. Vamos imaginar o nosso cérebro como uma casa que possui dois andares.
O andar de baixo é a parte mais primitiva do nosso cérebro, e é nesse andar que ficam as nossas emoções. No primeiro andar fica a nossa amídala (é isso mesmo! Temos uma amídala em nosso cérebro) e ela é responsável principalmente pelas emoções como a raiva e o medo.
O segundo andar do nosso cérebro é a parte mais desenvolvida, é aqui que acontecem os pensamentos mais complexos, reflexões, as nossas tomadas de decisão. É justamente aqui que os problemas começam.
Essa é a parte da obra que mais demora para ficar pronta (nosso cérebro fica completamente maduro após 21 anos) e partindo desse pressuposto, podemos começar a entender o porquê de certos comportamentos das crianças e dos adolescentes.
Pensando no cérebro de uma criança como uma casa de dois andares em construção, podemos imaginar um primeiro andar já terminado por completo, enquanto no andar de cima, podemos imaginar um telhado ainda em fase inicial com algumas estruturas e quase nenhuma telha, ou seja, ainda levará um bom tempo para toda essa construção ficar pronta.
Agora que entendemos um pouco mais sobre o funcionamento do cérebro e sabemos que as crianças ainda não têm capacidade para certas tomadas de decisão (lembrando que o cérebro delas ainda não está pronto), podemos pensar em algumas maneiras de conexão com elas em um momento de birra ou explosão emocional.
Vamos pensar em um exemplo: você vai ao supermercado com o seu filho de quatro anos. Ele pede para você comprar uma caixa de chocolates que custa os olhos da cara, e é claro que você diz não. Nesse momento seu filho começa a fazer o maior escândalo e a se jogar no chão, diante dessa situação você acaba atendendo ao pedido da criança. O que nós precisamos entender é como a birra acontece no cérebro das crianças. Quando o pai diz para o filho que não vai atender ao seu pedido, entra em ação a parte de baixo do cérebro disparando o sentimento de raiva. Como a parte do andar de cima do cérebro da criança ainda não está pronta, ela ainda não é capaz de raciocinar de maneira complexa para entender o motivo dos pais não comprarem o que ela quer.
O que acontece nesse instante é o que chamamos de “sequestro emocional”, agora a parte do andar de baixo do cérebro, que é a parte mais primitiva, assume o controle. Nesse momento a criança é só emoção e é por isso que a birra acontece, ela se joga no chão e faz todo aquele show que já estamos acostumados. Mas e agora: o que fazer?
Primeiro passo
Não ceda! Sabemos o quanto é difícil lidar com situações de birra quando estamos em público passando, porém precisamos ser firmes, pois se caso contrário, o que a criança irá pensar? “Hum, já sei! Toda a hora que eu quiser algo e meus pais disserem não, é só eu me jogar no chão que eu consigo!”. Não caia nessa armadilha.
Segundo passo
Quando a criança está sofrendo um sequestro emocional, não é possível fazer um contato com ela através da razão, ou melhor dizendo, não adianta querer explicar para ela de forma racional o porquê do não, pois nesse momento, o andar de cima (que ainda está em fase de construção, lembra?) não está funcionando.
Consequentemente a criança é só emoção. Diante dessa situação, precisamos esperar a criança se acalmar e aos poucos ir tentando uma conexão emocional, quero dizer, levar a criança a entender o que a levou a fazer aquela birra e valorizar o seu sentimento, fazer com que ela entenda a emoção que está sentindo.
As crianças pequenas ainda não sabem nomear suas emoções, e quanto mais cedo as ensinarmos a reconhecer as suas emoções, mais cedo elas aprenderão a lidar com elas.
As competências socioemocionais
A Escola da Inteligência, por meio da Teoria da Inteligência Multifocal desenvolvida pelo doutor Augusto Cury, trabalha inúmeras competências socioemocionais com as crianças a partir de 3 anos de idade.
Quanto mais cedo ensinarmos as nossas crianças a reconhecerem e refletirem sobre as suas emoções, melhor será o resultado da construção cerebral, e com certeza ao final da obra teremos uma casa muito mais estruturada e eficiente, teremos um adulto capaz de gerir seus pensamentos e emoções.
A adolescência
Que tal pensar agora sobre o cérebro do seu filho de 15 anos? Precisamos mudar a nossa relação a respeito da adolescência. Essa é uma fase fantástica de amadurecimento e crescimento intelectual, muitas mudanças estão acontecendo no cérebro.
É nela que o nosso cérebro adquire maior plasticidade, ou seja, possui maior capacidade de aprendizagem, por isso os jovens são capazes de fazer várias tarefas ao mesmo tempo, e absorver uma grande quantidade de novos conhecimentos.
O escritor Daniel Siegel em seu livro “cérebro adolescente” nos apresenta o que ele chama de as 4 qualidades do cérebro adolescente:
- Busca por novidade: Os circuitos cerebrais do adolescente sofrem um aumento do desejo por gratificação, o que cria uma motivação interior em busca de novidades e sentir a vida de maneira mais plena, o que gera maior engajamento com a vida.
- Engajamento social: Aumento da conexão entre os adolescentes e favorece a criação de novas amizades.
- Aumento da intensidade emocional: Dá uma vitalidade maior à vida. A vida passa a ser vivida com maior intensidade e também de maneira muito mais impulsiva.
- Exploração criativa: O raciocínio abstrato e o novo pensamento conceitual do adolescente, fazem com que ele se torne mais questionador e seja capaz de buscar novas ideias e soluções para enfrentar os desafios do cotidiano.
Em contato com essas qualidades do cérebro adolescente é possível refletir a respeito do quanto podemos usar esse conhecimento a nosso favor e ajudar os nossos filhos nesse período tão complicado.
Precisamos buscar conexão com os adolescentes. Nessa época da vida é normal que eles se aproximem de seus pares e se afastem dos mais velhos, de repente ficamos ultrapassados, viramos caretas, quadrados.
Busca por novidade
Vamos retomar novamente às qualidades do cérebro adolescente. Se ele busca por novidades, por que ao invés de ficarmos presos na rotina entediante da nossa casa, não convidamos nosso filho para um passeio que ele nunca fez? Quem sabe um aquário ou um planetário? Com certeza esse será um momento de aproximação e de fortalecimento de vínculos emocionais.
Engajamento social
Vimos que os jovens têm mais engajamento social, então por que não incentiva-los a fazer algum trabalho voluntário, por exemplo? Fazendo isso você estará contribuindo para desenvolver o senso de comunidade e altruísmo, que nos dias de hoje, estão cada vez mais escassos na nossa sociedade cada vez mais individualista.
Aumento da intensidade emocional / Exploração criativa
Em relação ao aumento da intensidade emocional e da exploração criativa, podemos aproveitar essas características e ajudá-los na busca de novas descobertas, incentivar que desenvolvam sua criatividade, e ajudá-los quando estiverem com o coração partido, pois devido ao aumento da intensidade emocional, um fora do “crush” pode resultar em um sofrimento de proporções gigantescas. A partir dessas qualidades podemos, de maneira inteligente, nos aproximar e fortalecer nossos vínculos familiares e de amizade com nossos filhos adolescentes.
A importância da empatia
De acordo com a Teoria da inteligência multifocal, uma competência socioemocional central que precisamos desenvolver para estreitar os vínculos com os nossos filhos é a empatia, precisamos ampliar e modificar o nosso olhar, que primeiro faz a crítica, para só depois elogiar (se é que elogiamos). O Dr. Augusto Cury defende a tese de que vivemos uma sociedade viciada em criticar e se queremos desenvolver uma melhor relação com nossos filhos precisamos mudar essa chave.
De acordo com TIM, quando elogiamos, abrimos janelas light na mente dos nossos filhos, iluminando a inteligência e os ajudando a ter comportamentos mais assertivos diante das dificuldades da vida.
Vou trazer aqui um exemplo que uso muito em minhas palestras com pais e professores:
Seu filho chega em casa com o boletim contendo 10 notas, sendo 9 azuis e 1 vermelha, onde nós vamos primeiro? Na vermelha. Mas, preste atenção: ele tirou nove notas azuis! Imagine a fala do pai para seu filho: “Filho como estou decepcionado com você! Como você me apresenta um boletim desses?! Como você tirou 5 de física?! Você só me dá desgosto mesmo, te pago escola, te compro tudo o que você pede para você me apresentar um boletim desses? Você não vai ser ninguém na vida. ”
Nesse momento o fenômeno RAM (Registro Automático da Memória), registra toda essa experiência que vai ficar registrada em uma janela da memória Killer (que armazenam as memórias negativas, traumáticas), e sendo assim, eu lhe faço uma pergunta: será que quando estiver em outra prova de física, esse jovem terá facilidade ou dificuldade em executá-la?
Ele terá dificuldade, pois nesse momento o seu cérebro acessará aquela memória contida na janela killer que diz: “eu só dou desgosto para o meu pai, eu nunca vou aprender física, na verdade acho que nem vou fazer essa prova, eu não vou acertar mesmo”.
Percebeu o quanto que só criticar sem elogiar pode ser prejudicial?
Vamos imaginar uma fala diferente do pai: “Filho parabéns! Como estou orgulhoso de você! Você tirou 10 de português, 10 de inglês, 9 de geografia, 8 de história! Como estou feliz! Não sabia que você era tão inteligente! Filho estou vendo que tem uma nota vermelha aqui, 5 de física, o que houve? Está com dificuldade? Precisamos resolver, vamos procurar um reforço?”.
Nesse segundo exemplo o fenômeno RAM registra essas memórias que vão para uma janela light (que armazenam as memórias positivas), e novamente eu lhe pergunto: como será que esse filho irá se comportar frente a outras provas? Sairá bem! A janela light lhe dirá que ele é muito inteligente, que ele só dá orgulho para seu pai. Percebem o quanto que somos responsáveis por abrir uma janela light ou killer na mente de nossos filhos?
Gostaria de terminar esse pequeno texto convidado a todos para colocarem em prática em sua vida cotidiana algumas das dicas apresentadas aqui. Quanto mais nos interiorizarmos, melhores gestores dos nossos pensamentos e emoções nós seremos. Quanto mais conhecermos o funcionamento da mente humana, melhor será o nosso relacionamento com as pessoas do nosso convívio.
Referências
SIEGEL, Daniel J. Cérebro Adolescente. São Paulo: Nversos 2016.
_____________ Cérebro da criança. São Paulo: Nversos 2015.
Cury, Augusto. A fascinante construção do eu. Planeta do Brasil 2011.